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Sherman com sua estratégia, somando rapidez à impiedade, para o historiador militar B.H.Liddel Hart, colocou-se como o “primeiro general moderno”, um dos fundadores da guerra total.
“Atlanta é nossa, e honestamente vencida”. Foram umas poucas palavras telegrafadas pelo general Sherman à Casa Branca, em setembro 1864, vindas diretamente do coração da Geórgia recém ocupada, quem garantiram a reeleição do presidente Abraão Lincoln. A campanha relâmpago que ele realizou sobre o território dos rebeldes estava estreitamente vinculada aos desejos do chefe nortista de continuar a guerra até o fim, até a rendição completa dos sulistas que se insurgiram contra a União em 1861.
Lincoln temia acima de tudo perder a eleição e assim, por meio da ascensão de um sucessor rival, abrir caminho para algum tipo de paz negociada ou um armistício que culminaria com a efetiva separação do país em duas partes.E isso se devia, entre outras coisas, ao cansaço geral da nação americana com o andamento da guerra, apesar da vitória dos nortistas na batalha de Gettysburg (na Pensilvânia) e na de Vicksburg (no Mississipi), ambas obtidas em 3 e 4 de julho de 1863, respectivamente.
Se isso ocorresse, todos os sofrimentos passados nas trincheiras e nas manobras forçadas, todo aquele sangue derramado pelos 300 mil mortos nortistas durante três anos seguidos teria sido em vão. A União estaria desfeita para sempre e os Estados Unidos rachado em dois. Poucas vezes na história da América um general salvou um presidente como Sherman, mais do que Ulisses Grant, fez com Lincoln.
Com a notícia da ocupação de Atlanta, situada nas profundezas do solo inimigo, os ianques sentiram finalmente que a guerra poderia vir a ser ganha, que era uma questão de alguns meses há mais, e votaram em massa no “velho Abe” (Lincoln recebeu 2.218,388 votos em 8 de novembro de 1864, ou 55% do total).
A franqueza de Sherman
O general William T. Sherman, nascido em Lancaster, Ohio em 1820, filho da elite local, graduado em West Point, era um homem duro e muito franco. Os seus cabelos avermelhados davam a cor do seu temperamento. Sintonizava com Abraão Lincoln em mover batalhas sem tréguas contra os confederados acompanhada de uma paz conciliadora quando eles por fim capitulassem. Ainda jovem, estivera na Califórnia como oficial a serviço do governador, chegando até a entrar no ramo bancário quando foi vizinho de Ulysses Grant, mas depois a guerra civil o arrastou para o meio da voragem. Em carta ao Secretário da Guerra ele voluntariamente se comissionou para lutar por três anos, tal ódio devotou aos separatistas e ao povo do Sul em geral.
Quando o prefeito de Atlanta ocupada implorou para que não expulsasse a população da cidade, a qual desejava por fogo, respondeu-lhe que as coisas eram assim mesmo: “guerra era crueldade e nada poderia refinar isso”, e não esperasse mercê enquanto os rebeldes não fossem batidos. Todos, pobres ou ricos, os homens e as mulheres do sul teriam que sentir o “braço duro da guerra”.
Não só isso, tinham que se submeter àqueles horrores todos para nunca mais sequer pensar no futuro vir a pegar em armas ou apoiar um levante sequer. Senão fosse assim, argumentou ele em carta ao prefeito Calhoun (datada de 12 de setembro de 1864), os Estados Unidos poderiam ter o triste destino do México (naquele momento, dividido internamente, encontrava-se ocupado por tropas franceses em apoio ao imperador Maximiliano, um monarca estrangeiro). Esse seu arrazoado fico resumido ao famoso dito a ele atribuído: War is Hell! “Guerra é um inferno!”
A impiedade dele visava longe. Agia como uma brasa comprimida sobre uma ferida para que ela, cicatrizada, jamais voltasse a abrir.
Antecedentes da Marcha de Sherman
Dera-se depois de dois anos de guerra civil um fenômeno curioso e raro. O Norte conseguira duas vitórias memoráveis no ano de 1863, invertendo a maré dos desastres iniciais. No fronte Leste, o general George Meade havia detido e batido o general Robert Lee na batalha de Gettysburg (1 a 3 de julho de 1863) que tentava a invasão da Pensilvânia, para dali assaltar Washington, enquanto que no fronte Oeste, o general Ulysses Grant, tomava de assalto a fortaleza de Vicksburg no Mississipi (que capitulou no dia 4 de julho, um dia depois de Gettysburg), ferindo as comunicações do Sul.
Todavia, a gente do Norte estava manifestando graves sintomas de exaustão. O mais radical deles, verdadeiramente alarmante, deu-se com a rebelião da população de Nova York, particularmente a de origem irlandesa, que em grande parte se amotinou contra o serviço militar e contra o que eles denominaram de “a guerra dos negros”.